Quem não ouviu falar sobre a maravilhosa Ilha de Fernando de Noronha? Noronha é um arquipélago pertencente ao estado brasileiro de Pernambuco. Formado por 21 ilhas e ilhotas, ocupa uma área de 26 km², e está situado no Oceano Atlântico. Após uma campanha liderada pelo ambientalista José Truda Palazzo, em 1988, a maior parte do arquipélago foi declarada Parque Nacional, com cerca de 8 km², para a proteção das espécies endêmicas lá existentes e da área de concentração dos golfinhos rotadores, que se reúnem diariamente na Baía dos Golfinhos (o lugar de observação mais regular da espécie em todo o planeta) . Hoje, o parque nacional é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)e recebe milhares de turistas do mundo inteiro que desejam conhecer o nosso “paraíso” brasileiro. Mas Fernando de Noronha, para quem ainda nao sabe, também já foi cenário de grandes tristezas. Hoje, a ilha guarda segredos não só nas profundezas de suas águas mas, também referente a sua colonização. Nao se sabe ao certo quem foi o navegador que descobriu a Ilha, mas segundo a história ocifial, teria sido Américo Vespúcio, no ano de 1503, quando, integrado a segunda expedição exploradora da costa brasileira, capitaneada por Gonçalo Coelho, o navegador aportou no arquipélago. Mas, há indícios que a ilha tenha sido descoberta e mapeada já em 1502, por Juan de La Costa, dando margem as dúvidas da descoberta de Vespúcio. É certo que em 1504, Fernan de Loronha, financiador de Gonçalo Coelho, fora designado pela coroa Portuguesa donatário da capitania hereditária, motivo que deu origem ao nome da Ilha. A história mais recente conta que entre os anos de 1938 e 1945, Fernando de Noronha passou a ser presídio político. Para que a Ilha fosse considerada “um presídio seguro” foram tomadas algumas providências que até hoje modificam o local. Um grande exemplo foi a importação do teju, um tipo de lagarto, hoje muito comum na ilha, que fora introduzido para acabar com as ratazanas que vinham nos navios. Tal medida faz com que ainda hoje ovos de aves e de tartarugas sejam devorados pelos “ lagartos importados”. Outra notável mudança é a falta de árvores na Ilha, que foram na mesma época, arrancadas para que os presidiários não pudessem utilizar seus troncos para fazer jangadas, evitando as “temidas” fugas. Pois é, o mais espantoso de tudo é que Noronha, deixando esta última história de lado, continua realmente maravilhosa!
Como é bom voltar a Fernando de Noronha e perceber que alguns antigos obstáculos, para nós cadeirantes, não existem mais. Há exatamente dez anos atrás, estive na ilha a passeio e quase enlouqueci a procura de uma pousada que me acomodasse de maneira confortável. Quase enlouqueci também colocando minha bagagem dentro de um bugue e tentando lidar com um taxista que fazia questão de não esconder seu espanto a me ver “praticando turismo em Noronha” como cadeirante . Resultado da última viagem: Muito esforço e jogo de cintura para conseguir entrar num banheiro com porta de 0.60m de largura com minha cadeira de rodas. Tomar banho era uma missão tão difícil quanto praticar qualquer outra atividade na ilha.
Se você esta em sua cadeira de rodas, achando que esta situação ainda é exatamente a mesma, se engana!
Fiquei feliz em perceber que algumas pousadas já se adaptaram ou pelo menos, tentaram se adaptar. Algumas sentiram dificuldades devido à arquitetura íngreme do local e acabaram fazendo o melhor que puderam já outras, não tinham quem orientasse da forma correta e acabaram se adaptando como acharam “certo”. Mas o fato é que temos que tirar o chapéu, pois tentaram! E muitas ainda estão dispostas a nos proporcionar uma maior segurança e conforto ainda que exista a dificuldade de se reformar ou construir algo na Ilha de Noronha.
E quanto aos taxistas? Eles ainda podem até ficar espantados, mas com certeza daqui para frente vão, cada vez mais, observar cadeirantes visitando a Ilha, pois as mudanças estão acontecendo. Devo avisar que até taxi grande para acomodar sua bagagem e cadeira, já encontramos por lá!
Como todos já sabem, meu trabalho não envolve verificar apenas a acessibilidade nas hospedagens, mas também nos atrativos locais. Novamente bato na tecla que ser deficiente cadeirante e ir a Fernando de Noronha é totalmente possível! Mas saiba que ainda encontramos muitos obstáculos, pois não estamos falando de lugares “adaptados” para cadeira de rodas... O importante é saber que estes Destinos turísticos não podem ser modificados para receber cadeirantes, muitas vezes até por preservação ambiental. Em Noronha, a maioria das ruas ainda não é pavimentada e o meio de locomoção ainda mais comum na Ilha é o bugue. Já as praias e trilhas ainda são, na maioria das vezes, inacessíveis. Mesmo assim, afirmo aos leitores, que consegui realizar quase todas as atividades que são oferecidas aos turistas “comuns” na Ilha de Fernando de Noronha.
É lógico que como usuária de cadeira de rodas, tive que fazer algumas mudanças em alguns passeios e me adaptar de acordo com as minhas condições e com a estrutura física do local. O passeio de carro pela Ilha, o famoso Ilha Tour, onde se conhece a Ilha toda, com direito a trilha histórica, praias, trilhas e parada para banho, foi o primeiro a sofrer mudanças. Fizemos este passeio de veículo 4x4, e pude conhecer todas as praias e a trilha histórica, mas infelizmente não consegui conhecer o Forte dos Remédios e nem trilhas, como a dos Golfinhos e Sancho e a praia do Leão. Mas, ainda assim consegui descer de cadeira de rodas de maneira muito confortável, sem esforço, na praia do Boldró, da Cacimba do Padre, da Conceição e a do Porto. As outras onde não conseguimos ter acesso por terra, podemos conhecer melhor através do passeio de barco, como a praia do Sancho. Basta agendar o passeio com uma operadora local.
Um passeio inesquecível é a visita a praia da Atalaia. Para visitar esta praia, o turista cadeirante deverá procurar a operadora e avisar sobre as suas condições físicas (uso de cadeira de rodas) para que seja cedida uma autorização do ICMBio para que um veículo possa levar o “especial”até a praia. Pois o único acesso hoje é feito através de uma trilha bem complicada. Feito isso, o deficiente poderá desfrutar do passeio e da piscina natural da praia da Atalaia como qualquer outro turista. Mas saiba que em Noronha tudo depende das condições físicas do terreno, se chover, nada feito!
Noronha inovou também com mais um novo passeio, o projeto NAVI. Um barco com uma lente de aumento em seu casco que possibilita a observação da vida marinha por qualquer pessoa. Esta é uma ótima opção para quem não se dá muito bem com a água ou para idosos, gestantes e crianças. O barco NAVI, não foi pensado para cadeirantes, mas existe sim a possibilidade de um cadeirante ser um de seus expedicionários. E caso seja um cadeirante mais ousado ainda poderá se submeter a ser carregado pelos guias até um confortável banco próximo a lente, para desfrutar como todos os outros. Este passeio, além de mágico e interessante é muito fácil e acessível, uma vez que o mar esteja calmo para fazer o transporte da cadeira de rodas do pear até a embarcação.
Uma ótima opção para quem é cadeirante ou tem mobilidade reduzida é o mergulho livre ou autônomo no Porto. Conhecer o naufrágio e poder nadar com tartarugas, tubarões e arraias é um dos convites deste passeio. Ainda para os mais atrevidos e corajosos, Noronha oferece barcos catamarãs que levam os turistas para mergulhar em mar aberto. A operadora local, para quem não souber, pode dar um curso de iniciação em sua piscina, antes do batismo no mar. Outro passeio muito interessante que vale a pena é a prancha submarina. Uma prancha puxa o turista pelo mar e ele, de máscara e snorkel, observa tudo o que esta por baixo... Eu fiz e aprovei! Neste passeio o cadeirante também pode levar a cadeira de rodas dentro do barco e com o auxílio de guias que o acompanham, é colocado ao mar. Tudo feito com o maior cuidado e segurança.
Mas a Ilha ainda esconde outras belezas e atrativos além dos mergulhos e passeios de barco, como o Por do Sol no Forte de São Pedro do Boldró, encontro de todos os turistas às 18h da tarde e o Projeto TAMAR, que oferece palestras de noite e visitas guiadas à tarde. O projeto TAMAR é todo acessível para o cadeirante. Infelizmente ainda não possui sanitário adaptado, mas já estão providenciando. Vale a visita e aqui vai uma dica: não deixem de assistir a palestra sobre tubarões de Leonardo Veras.
Atenção: Ainda não existem sanitários adaptados ou acessíveis na Ilha ( fora o das pousadas) então, vá preparado para ter que improvisar... se necessário. O sanitário do museu dos Tubarões fica próximo ao porto e tem porta de 0,70m.
Receptivos locais: Atalaia 81- 36191328
Operadora de mergulho: águas claras 81- 36191225
Agradecimento da empresa Ambiental Expedições, apoiadora do O Viajante Especial:
Olá Adriana, a Ambiental Turismo sente-se honrada em ter sido sua parceira na viagem a Fernando de Noronha. Juntos, fizemos e conhecemos, pousadas, restaurantes, passeios e praias, sempre atentos às necessidades de pessoas com mobilidade reduzida.
Durante sua viagem pelo arquipélago pernambucano, entendemos um pouco mais sobre como trabalhar com esse público especial e qual o caminho que deveremos trilhar para, aos poucos, adaptar nossos serviços para também atender a cadeirantes e outras pessoas que necessitam de uma atenção diferenciada. Sua passagem por Noronha é mais uma etapa para melhorarmos o destino turístico e poder atender da maneira possível os passageiros que possuem mobilidade reduzida.
Muito obrigado
Ambiental Turismo
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